Tuesday, January 26, 2016

Toponímia da Serra - Borrageiro

 panorâmica do Vale Teixeira com o Borrageiro ao fundo


Recentemente, no grupo do FaceBook Gerês - Xerés, acompanhei uma troca de opiniões sobre como distinguir os Borrageiro existentes na serra do Gerês. Um topónimo, cuja explicação julgo ter encontrado Dulce Lima [1] e era um dos que tinha intenção de abordar aqui.

Os Borrageiro


Na Serra do Gerês existem diversos locais com o topónimo Borrageiro que, por vezes, aparece designados por outras formas. Na minha opinião, as formas de Borrageira, usada por Miguel Torga, nas entradas dos seus Diários em 25 de Julho de 1945, 15 de Agosto de 1952 e 12 de Agosto de 1955, ou Alto do Borrageiro, forma usada na delimitação do Perímetro Florestal do Gerês, referem-se ao local onde se encontra o marco geodésico do Borrageiro. Em 1909, no mapa inserto em Serra do Gerez, Estudos - Aspectos – Paisagens,  Tude de Sousa usa Borrageiro para o mesmo local.

Gerês, Vilarinho da Furna, 25 de Julho de 1945 “O pé do Cabril, a Borrageira, o Altar de Cabrões, a Calcedónia parecem deuses solenes, com as cabeças divinas envoltas na fofa bruma das nuvens” Miguel Torga, Diário III 
Gerês, 15 de Agosto de 1952 – Despedida da serra. Quatro horas a trepar para chegar ao alto da Borrageira. Sobre o talefe, a 1433 metros, invadiu-me uma estranha sensação de que não estava a dizer um adeus provisório àqueles cumes, mas a perder para sempre um pedaço do mundo. Miguel Torga, Diário VI 
Gerês, 12 de Agosto de 1955 – Serra. Sempre que me encontro aqui, quando chega este dia, perco-me pelas fragas. Vou fazer anos à Calcedónia, ao Cabril ou à Borrageira – aos picos mais altos da Montanha. Que ao menos o espírito, que vai morrendo no corpo, tenha assim um vislumbre de ressurreição. Miguel Torga, Diário VII
Num relato de Camacho Pereira sobre uma excursão pela serra do Gerês, publicado no n.º 4 (Vol. II), Julho de 1935, a revista Latina, utiliza para o local a forma Borrageira,

Um novo cáos de predaria se desenrola, ao fundo na distância o Vale da Teixeira, para onde descemos; fecham o espaço o Junco e o Pé de Salgueiro; Garganta da Preza é p nome da passagem aberta ao vale. A prumo quási em frente a Borrageira para estar a um quarto de hora, porám quantas dobras de motanha!
A forma de Borrageiros (plural) seria usada para designar a região onde a cartografia mais antiga regista o Borrageiro 1º e Borrageiro 2º, onde se situam as ruínas das Minas do Borrageiro. Quanto à forma Borrageirinha, que Miguel Torga utilizou na entrada de 10 de Agosto de 1952, Rui Barbosa (blogue Carris), no Gerês-Xerés, referiu já ter escutado a referência Borrageirinho para o mesmo local. Ainda que não possa afirmar que seja referente ao cabeço junto às Minas do Borrageiro (Borrageiro 2º),  Maria Carronda (aka White Angel), a minha fonte preferida para esta área da serra, confirmou-me que conhecia as formas Borageiro 1, Borrageiro 2, do BorrageirinhoBorrageiras  ou Borrageirinhas para estes cabeços .


Se atendermos à entrada de 10 de Agosto de 1952, podemos considerar que o relato de Miguel Torga se adequa ao cabeço junto às Minas do Borrageiro:
    Gerês, 10 de Agosto de 1952 – Excursão à Borrageirinha, uma soberba meda de granito erguida numa paisagem lunar, que não descrevo. Há certos recantos da natureza para os quais não existem palavras nem tinta. Demais a mais quando as circunstâncias que nos aproximam deles são, como as de hoje, de tal modo propícias que os transformam e tornam quase irreais.
    Perfeitamente possesso da inexprimível grandeza que me envolvia, tirei-me da pequenez habitual e cometi naquele cenário imprevisto uma das loucuras mais bonitas da minha vida. Subi ao Fragão pelo seu lado menos acessível e mais perigoso. Os companheiros, aflitos escoravam-me com os olhares. Mas apetecia-me uma façanha digna de tamanha majestade. E ela do que arriscar a própria vida.
    Se há gente que eu entenda, é aquela que gasta a existência a escalar os Himalais do mundo. Abismos invertidos em direcção ao céu, para os amar é que é preciso ter asas de Nietzsche. Os triunfos, ali, conquistam-se nas barbas de Deus. Miguel Torga, Diário VI
A utilização de Borrageira e Borrageirinha, com apenas com 5 dias de diferença, se atendermos ao cuidado que Miguel Torga tinha na revisão dos seus livros, poderá ser também uma boa indicação que estaria a referir-se a locais diferentes. 

O topónimo


Sobre o topónimo, de acordo com Dulce Lima  [1], borrageiro, ou cabeço, são denominações locais para designar o Castle-Kopje (os "inselberg" de forma acastelada). Assim, a origem destes topónimos seriam referências ao relevo. Pequenas ilhas erguidas em oceanos de pedras.

localização dos diferentes Borrageiro na carta 31

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