Thursday, January 14, 2016

Notas sobre o socorros de 3 pessoas na Serra do Gerês - Minas dos Carris



Nos últimos dias li muito sobre o socorro de 3 pessoas que "querendo ver a neve" se meteram à serra no meio de uma tempestade e compreenderam da pior maneira que a natureza é muito mais que partilhas no face book.  Nessas leituras encontrei abordagens de muitos temas interessantes [a questão da visitação  do PNPG, com a esquizofrénica diferença entre a situação "de facto" e a situação "de jure" na visitação criada pela conjugação do POPNPG e taxas do ICNF; a falta de cultura desportiva de montanha; as questões de segurança na pratica de atividades de montanha; ...] e os habituais comentários críticos e insultuosos. Só que nestas notas apenas quero abordar a questão da organização do socorro.

É que, admirando os operacionais que subiram a serra para resgatar a vitima  em hipotermia (julgo saber que foi comunicado à proteção civil que havia uma pessoa em hipotermia), faço parte dos que não compreendem os 80 homens e 14 viaturas mobilizadas e se questionam sobre a gestão e coordenação da proteção civil.

Sobre as circunstâncias do resgate, no blogue do Rui Barbosa existe um bom relato e recomendo a sua leitura para a contextualização do caso.

No mapa assinalei o que julgo terem sido os percursos dos bombeiros de acordo com a s informações que recolhi. Assinalado a verde marquei o possível percurso pedestre desde a Lagoa do Marinho realizado pelos bombeiros até á vitima.  A vermelho o  percurso de evacuação desde as minas até à estrada florestal de acesso à fronteira. Sei que o socorro da vítima obrigou a um transporte em maca e que as outras duas pessoas desceram pelos seus próprios meios. Os 3 montanhistas que deram o primeiro apoio, ajudaram também na evacuação e, pudendo andar mais rápidos, com eles desceu o mais jovem dos 3 em dificuldades. Com os bombeiros desceu, de maca, a vítima em hipotermia e o outro membro do grupo. Na fase final, não sei onde foi o ponto de encontro, os GIPS apoiaram os bombeiros no transporte da maca.

Sobre a coordenação do resgate tenho a dizer:


Eu percebo que tenham começado o resgate com carros e homens a partir das Lagoas do Marinho (Montalegre) [ponto 2 no mapa], que se situa a +/- 6 kms das minas) e que tenham chamado os bombeiros mais próximos (de Salto -Montalegre?). Percebo que se tenha optado por levar a vitima pelo Vale do Homem desde o abrigo [ponto 1] até ao [ponto 3], pois de lá seria mais fácil e rápido o transporte para hospital de fosse necessário. Percebo, portanto, a mobilização de alguns meios de Terras de Bouro. Percebo que descer o vale do homem no meio de uma tempestade, de noite, a carregar uma maca deve ser uma tarefa complicada e demorada. Percebo que no transporte da maca fosse feita a substituição da equipa de transporte, pois na descida foram mais de 10 kms e com uma parte inicial muito dura. Percebo que os bombeiros estivessem exaustos na parte final e aceitassem com agrado ser substituídos no transporte pelos GIPS.


Percebendo tudo isto, não percebo o circo montado em torno do socorro. Como o local da vítima era conhecido, os meios necessários seriam apenas para socorro e transporte. Se fosse necessário fazer uma busca todo seria diferente. Chegados ao local os bombeiros puderam confirmar as informações e avaliar melhor a necessidade de mais meios e não consigo perceber os 80 homens e 14 viaturas mobilizadas. A emergência funciona é pacote de tudo incluído? É tudo ou nada?

Julgo saber que mobilizaram apoio psicológico, mas não tiveram qualquer preocupação em respeitar a identidade das vítimas. Como é que apareceram as tvs? Foram chamadas pelos homens perdidos?

A atuação dos GIPS e as notícias sobre a relevância da sua atuação ficam também por explicar. Parece que subiram depois do primeiro grupo, os montanhistas que fizeram o primeiro apoio na serra e o mais jovem dos perdidos, ter chegado e apenas foram substituir não transporte os bombeiros no transporte. Apareceram como os heróis da noite nas tvs e um jornal do dia seguinte diziam que até foram socorrer os primeiros os bombeiros. Admito que estejam inocentes na divulgação das notícias, mas a coisa desagradou aos bombeiros e a proteção civil fica mal no meio disto tudo.

3 comments:

Anonymous said...

Boa noite,

Uma pequena pergunta: onde arranjar mapas como aquele onde desenhou os trajectos que ilustra este texto?

Era fantástico poder contar com essa ajuda...

Cumprimentos
Rui

joca said...

a carta da zona é a nº31, pode ser encontrada em livrarias ou nos serviços cartográficos do exército https://www.igeoe.pt/index.php?id=186&p=1&escala=1&distrito=3

Anonymous said...

Bom dia Joca,

Obrigado pela pronta resposta. Este sábado irei (espero eu) à Rocalva partindo do Arado ou da Tribela (espero que seja tranquilo para o carro). Vou "roubar" um mapa que tem no seu blog que apanha parte da zona (caso não consiga arranjar os mapas numa livraria). Espero que não se importe que o faça será apenas uma ajuda para a orientação(gosto de o fazer à moda antiga).

Já agora os meus parabéns pelo blog. Mais um para os favoritos.

Cumprimentos
Rui